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A assistência aos pacientes queimados vista a partir de uma perspectiva de sistemas complexos

A saúde passa por uma profunda transformação tecnológica e digital, e tem se tornado cada vez mais complexa.

Os cuidados dos pacientes queimados passou por um grande desenvolvimento revolucionário nas últimas décadas, e a sobrevivência a uma queimadura grave, que antes era uma exceção, atualmente tornou-se a regra, até mesmo para as vítimas com idade mais avançada.

Neste sentido, o uso a engenharia tecidual como novas opções de terapias para o tratamento dos pacientes queimados deve fazer parte deste complexo de conhecimento.

É importante que profissionais dos ecossistemas da saúde, assim como os grupos de pesquisas relacionadas às queimaduras, adaptem-se a esses desenvolvimentos, os quais exigem novas perspectivas, diferentes abordagens e estratégias.

A teoria da complexidade no ambiente da saúde

A Teoria da Complexidade aborda os sistemas constituídos por uma grande quantidade de agentes, os quais se integram para produzir estratégias adaptativas de sobrevivência para os componentes do sistema e para o sistema na totalidade.

Essa teoria é aplicada em diversas áreas, como, por exemplo, gestão, computação, matemática, biologia, física e meio ambiente, entre outros.

Nos sistemas complexos, os diferentes elementos interagem e produzem saídas que são imprevisíveis e não lineares, e adaptam-se constantemente à pressão do ambiente. O conhecimento e aplicação dos princípios da teoria da complexidade tornam muitas situações mais compreensíveis e oferecem oportunidades de adaptação e antecipação.

No caso dos ecossistemas da saúde, a assistência aos pacientes com queimaduras graves pode ser vista como sistemas complexos, onde os aspectos físicos, psicológicos e sociais devem ser considerados desde o início do tratamento.

Complexidades nos cuidados com queimaduras

Da perspectiva da teoria da complexidade, uma lesão grave por queimadura é uma ruptura extrema do “sistema do corpo humano”, e a consciência do processo em vários níveis ajuda a entender e gerenciar a complexa situação nestes casos.

Com esta visão, os cuidados não se concentram apenas na sobrevivência e na cicatrização de feridas, mas também na qualidade de vida, bem-estar psicológico e reinserção do paciente na sociedade.

Desta maneira, a queimadura afeta em vários níveis um paciente como um sistema complexo, que deve ser visto com diferentes perspectivas:

  • Perspectiva da pesquisa científica para o entendimento dos processos em níveis celulares e de tecido com o uso de ferramentas de biologia e computação, os quais estão disponíveis e conseguem modelar e simular as complexidades associadas à cicatrização de queimaduras.
  • Perspectiva clínica de sistema complexo das estratégias de intervenção para melhorar a tomada de decisões médicas e a pesquisa clínica aplicada.
  • Perspectiva organizacional: a estrutura e a dinâmica da equipe de atendimento ao paciente, o sistema de organização hospitalar e o sistema geral de cuidados devem ser vistos como agentes do complexo. 

Complexidade na pesquisa fundamental das queimaduras

Para entender os processos da resposta do corpo a uma queimadura ao nível pré-clínico, a abordagem da biologia de sistemas complexos pode ser empregada.

Essa abordagem usa dados pré-existentes da literatura combinados com dados recém-gerados de experimentos laboratoriais para desenvolver modelos representativos dos processos envolvidos na cura destas queimaduras graves.

Complexidade na prática clínica das queimaduras

Na fase aguda, o impacto da lesão e a complexidade da resposta do corpo é ilustrada pela resposta inflamatória, conhecida como choque de queimadura, que ocorre horas após a lesão. Esta é uma condição complexa onde citocinas e outros mediadores inflamatórios são liberados no local da lesão, os quais atuarão em muitos outros sistemas orgânicos até se tornar sistêmico.

Desta maneira, utilizando a visão e os direcionamentos provenientes dos sistemas complexos, o melhor tratamento na fase aguda muito provavelmente irá direcionar o desfecho clínico do paciente, levando a uma melhor qualidade de vida e até uma melhor reintegração do paciente na sociedade.

Complexidade na integração de dados de saúde

Os modelos de apoio à decisão e interativos baseados em sistemas de informações podem ser vistos como sistemas complexos e ajudam na tomada de decisões, utilizando dados do paciente e conhecimento clínico.

Em combinação com os registros de resultados nacionais e internacionais, é possível estabelecer o valor do cuidado para pacientes ao nível de grupo, mas também adaptar o tratamento para cada necessidade individual.

Por exemplo, ao mapear as variáveis essenciais de um paciente individual, é possível estimar uma previsão de recuperação ao longo do tempo, e quanto, onde, e que apoio serão necessários para essa recuperação.

O conceito de sistemas complexos será reconhecido e amplamente utilizado na saúde?

A implementação de uma visão de sistemas complexos já é uma realidade em muitas empresas modernas, onde há uma maior adaptabilidade e eficiência. Nestas empresas, os conceitos de rede e complexidade funcionam muito bem e são facilitadores de adaptação e expansão.

Como exemplo, têm-se os sistemas hospitalares modernos que já se adaptaram e organizaram-se para lidar com tais complexidades tanto nos níveis clínicos como organizacional.

Em suma, essa abordagem de cuidados de saúde como um sistema complexo favorece os cuidados multidisciplinares em torno de uma condição médica e permite o atendimento personalizado. E para o tratamento de queimaduras graves, esta abordagem parece ideal.

A longo prazo, o impacto desta abordagem pode ser visto nos aspectos físicos, mentais e sociais dos pacientes com queimaduras graves durante os processos de reabilitação e reintegração na sociedade. Assim a qualidade de vida destes pacientes pode ser comparável à população sem queimaduras.

A In Situ é uma startup de base tecnológica da área da saúde, que utiliza a terapia celular como ferramenta para a criação de produtos inovadores com foco na cicatrização de tecidos.

 Referências:

Van Zuijlen PPM, Korkmaz HI, Sheraton VM, Haanstra TM, Pijpe A, de Vries A, van der Vlies CH, Bosma E, de Jong E, Middelkoop E, Vermolen FJ, Sloot PMA. The future of burn care from a complexity science perspective. J Burn Care Res. 2022 Mar 10:irac029. doi: 10.1093/jbcr/irac029. Epub ahead of print. PMID: 35267022.

 

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