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Células-tronco e a Medicina Veterinária

O número de mascotes nas famílias brasileiras cresce a cada ano. De acordo com o último censo (2013) realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a população de animais de companhia no país contabilizou 134,4 milhões de animais [1]. Estão presentes 54,2 milhões de cães; 39,8 milhões de aves; 23,9 milhões de gatos; 19,1 milhões de peixes e 2,3 milhões de répteis e pequenos mamíferos (2019) [2].

Assim como os seres humanos estão susceptíveis, ao longo de sua vida, às diferentes enfermidades, com os animais não é diferente.

Doenças como câncer e diabetes que há alguns anos não possuíam cura [3] atualmente com pesquisas, principalmente sobre o uso de terapias com células-tronco, esse cenário está mudando. As células-tronco auxiliam no tratamento de variadas doenças devido às suas características que as tornam capazes de regenerar diferentes tecidos, através da multiplicação, diferenciação ou secreção de substâncias químicas que estimulam o local afetado [4].

Os animais, principalmente os de companhia (cães e gatos) podem adquirir, dentre inúmeras afecções, as seguintes:

  • Osteoartrose: acomete as articulações por diversas causas gerando degeneração e perda da cartilagem. O animal sente dor, claudicação, há perda do apetite e prostração. Não há cura, o tratamento é direcionado para prevenir ou reduzir alterações nas articulações com administração de medicamentos e procedimentos cirúrgicos [5].
  • Cinomose: doença endêmica, altamente contagiosa acometendo os cães. O agente causador é um RNA-vírus da Família Paramyxoviridae que possui variadas cepas com virulência e predileção por tecidos diferentes. [6] [7] [8]. Essa doença dispõe de três modos de apresentação: crônica, aguda e subaguda. Atua nos sistemas respiratório, cardíaco, gastroentérico e neurológico [9]. O animal apresenta anorexia, febre, vômito, diarreia, desidratação severa, prostração, convulsões, mioclonia. [10] [11] [12]. O tratamento engloba antibioticoterapia (devido a infecções secundárias), anticonvulsionantes, antiemeticos, fluidoterapia, cuidados com mucosas nasais, com os olhos e adequada alimentação. Quando o tratamento não está apresentando resultados satisfatórios, nota-se que o animal perde a cada dia a qualidade de vida e bem-estar recomenda-se a eutanásia. Os animais que conseguem um tratamento satisfatório permanecem com sequelas da doença, principalmente neurológicas.
  • Ceratoconjuntivite seca: mais comum em cães. Sua causa e desenvolvimento ainda são pouco conhecidas, porém acomete, de maneira autoimune, as glândulas lacrimais devido a múltiplos fatores: espontaneamente, por medicamentos, doenças metabólicas, vírus da cinomose, infecções secundárias, doenças autoimunes, idiopática [13] [14]. A administração de medicamentos direcionados aos sintomas, incluindo colírios, são utilizados como forma de tratamento, podendo o animal ser medicado por toda a vida.

Essas três enfermidades citadas possuem como tratamento alternativo consolidado, na medicina veterinária, a terapia com células-tronco.

As células-tronco utilizadas em animais são as mesenquimais, elas apresentam alto nível de diferenciação, auto-renovação e proliferação [15]. São administradas no animal, que está recebendo o tratamento, de forma injetável localmente ou sistemicamente. As células provêm do próprio animal (autólogas) ou de outro animal da mesma espécie (alogênica) [16].

De acordo com pesquisas e o uso recorrente dessa terapia nos animais verificou-se que as fontes mais utilizadas para extração e isolamento são a polpa dentária, o músculo, o líquido amniótico, a medula óssea, o tecido adiposo, o cordão umbilical e o endométrio, sendo o tecido adiposo de maior facilidade e prodigalidade, propiciando menor desconforto para o animal, uma vez que, são coletadas durante o processo de castração ou através de uma pequena incisão na região abdominal ou da parede torácica em cães e gatos e na região glútea de equinos. São obtidas de variadas espécies: ratos, ovinos, suínos, equinos, cães e felinos [17].

O uso de células-tronco, pelos médicos veterinários, como prática clínica privativa foi regulamentada em 2020 com a Resolução 1.363 do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) [18]. Sua empregabilidade na área, principalmente em pequenos animais e animais silvestres, vem tornando-se frequente.

Englobada na Medicina Veterinária Regenerativa essa terapia pode ser empregada como forma alternativa às terapias convencionais, de modo que essas nem sempre obtêm êxito. Utilizada em qualquer animal, exceto os que estão imunossuprimidos gravemente, o tratamento com células-tronco é menos invasiva, tem menor risco de rejeição além de oferecer maior longevidade para os mascotes. Uma terapia que proporciona a qualidade de vida e o bem-estar para os animais.

A In Situ é uma startup de base tecnológica da área da saúde, que utiliza a terapia celular como ferramenta para a criação de produtos inovadores com foco na cicatrização de tecidos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA.População de Animais de Estimação no Brasil. ABINPET, 2013

[2] INSTITUTO PET BRASIL.Censo Pet: 139,3 milhões de animais de estimação no Brasil. Assessoria de Imprensa, 2019.

[3] BRASIL. Ministério da Saúde. Biblioteca Virtual em Saúde. Células-tronco. Brasília. 2008.

[4] R-CRIO. Quais as diferenças entre os tipos de células-tronco?. R-crio Células-tronco. 2018.

[5] SCHMIDT, K. M. Doenças osteoarticulares em pequenos animais. Trabalho de conclusão de curso de graduação – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Campus de Botucatu, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, 2009. Acesso em 09 de Abril de 2022.

[6] GREENE, C.E.; APPEL, M.J. Canine distemper. In: Greene C.E. (Eds). Infectious disease of the dog and cat. 3 ed., Philadelphia: Elsevier, p. 25-41, 2006.

[7] ORSINI, H.; BONDAN, E. F. Patogenia das lesões no sistema nervoso central (SNC) na cinomose canina. Clínica Veterinária, São Paulo, n. 74, p. 28-34, 2008.

[8] KORNEGAY, J. N. Doenças causadoras de comprometimento neurológico multifocal. In: HOSKINS, J. D. Pediatria veterinária: cães e gatos até 6 meses de idade. Manole, p. 138- 139, 1992.

[9] MACHADO, R. P. Células-tronco no tratamento de animais com sequelas neurológicas ocasionadas pela cinomose. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharel em Medicina Veterinária) – Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos, 2019.

[10] ARAÚJO,J. B. C. Avaliação cardíaca em cães com cinomose. UNESP. 2017.

[11] EVERMANN, . F., & KENNEDY, M. A. Viral infections. Small Animal Pediatrics, 119–129. 2011.

[12] SYKES,J. E. Canine distemper virus infection. Canine and Feline Infectious Diseases, 152–165. 2013.

[13] GELATT, K. N. Canine lacrimal and nasolacrimal diseases. Veterinary Ophthalmology. 5. Ed. Philadelphia. Cap. 9. p. 186-199. 1991.

[14] SCHRADER, S.; MIRCHEFF, A. K.; GEERLING, G. Animal models of dry eye. Dev Ophthalmol; v.41 p. 298–312; 2008.

[15] DENNIS,  J.E.;  CAPLAN,  A.I.  Differentiation  potential  of  conditionally  immortalized  mesenchymal progenitor  cells  from  adult  marrow  of  a  H-2Kb-tsA58  transgenic  mouse. Journal  Cell  Physiology, Filadelfia, v.167, n.3, p.523–538, 1996.

[16] BATISTA, L. A. Células-tronco mesenquimais no tratamento da Osteoartrose canina – relato de caso. Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos, Faculdade de Medicina Veterinária, 2022.

[17] SANTOS,E. Biologia das células-tronco mesenquimais de felinos obtidas a partir de nichos presentes no tecido adiposo para aplicação terapêutica na medicina veterinária. Rev. Elet. Cient. UERGS, v.4, n.3, p. 368-379, 2018.

[18] CFMV. Terapia com células-tronco em animais. O que diz a regulamentação? Conselho Federal de Medicina Veterinária. 2022.

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